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terça-feira, 8 de abril de 2014

Ditadura vitimou 27 militares que não aderiram ao golpe de 64

  • Outros dez civis de origem militar foram mortos, diz Comissão Nacional da Verdade, para quem a perseguição atingiu até 7,5 mil pessoas das Forças Armadas
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SÃO PAULO - Vinte e sete militares da ativa e outros dez civis de origem militar foram assassinados por não aderirem ao golpe que derrubou o presidente João Goulart em abril de 1964. Segundo levantamento da Comissão Nacional da Verdade (CNV), entre 6.500 e 7.500 integrantes das Forças Armadas e das Polícias Militares foram perseguidos, presos, torturados ou cassados durante a ditadura.
Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, em audiência pública da Comissão Estadual da Verdade com a CNV, na Assembleia Legislativa de São Paulo. A audiência contou com o depoimento de militares reformados que foram perseguidos durante a ditadura. Na abertura, foi feita uma homenagem ao tenente-coronel da Aeronáutica Alfeu de Alcântara Monteiro, uma das primeiras vítimas do regime, assassinado em 4 de abril de 1964, na base aérea de Canoas (RS), por não aderir ao golpe.
Para o pesquisador da Unesp Paulo Cunha, que coordena as pesquisas sobre a perseguição aos militares da CNV, os membros das Forças Armadas e das polícias foram a categoria mais perseguida durante o regime. Segundo ele, o número de mortos ainda está sendo apurado e, até dezembro, a comissão deverá apresentar o levantamento final sobre o tema. Para ele, há dois momentos do regime militar em que houve maior perseguição a militares, logo em 1964 e depois, no final da ditadura, nos anos 80.
— Há um grande número de militares, principalmente praças, que foram perseguidos, às vezes, porque estavam lendo algum livro de Darcy Ribeiro, que se vendia nas livrarias, no período de transição — disse Paulo Cunha.
O pesquisador explica que os dez civis mortos da lista são militares que já não estavam na ativa.
Depoimentos
— Fui cassado pelo Ato Institucional número 1, em 1964, sem direitos, sem salário. Fiquei cinco anos sem documentos, sem poder trabalhar. A culpa: ser fiel à autoridade legal constituída — disse o capitão reformado Simão Kerimian.
Kerimian defendeu a punição aos agentes da repressão e criticou o sistema de anistia para militares, que seria, segundo ele, cheio de entraves para a concessão de direitos pelas Forças Armadas:
— A nossa anistia é uma autoanistia aos torturadores, assassinos e estupradores.
Os depoimentos de militares perseguidos devem seguir até a tarde desta segunda-feira.
Então sargento da Aeronáutica em Pernambuco, Francisco Fernandes Maia começou a ser perseguido depois de participar do comício de Jango na Central do Brasil, em março de 1964. Em janeiro do ano seguinte, foi preso por nove meses acusado de integrar o Port (Partido Operário Revolucionário Trotskista).
Controlador de voo, pai de seis filhos, Maia acabou cassado, sem direito de trabalhar e sem direitos políticos. Descobriu a cassação ao ver seu nome no jornal. Ficou impedido de trabalhar também na aviação civil, devido a portarias reservadas publicadas pelo governo. Ao militar que foi despejá-lo de sua casa, que lhe perguntou o que faria na rua com tantos filhos, respondeu: "o Brasil está todo para ser feito".
— Essa luta da gente é uma luta que vai calcinando a gente. Essa verdade baseada na memória vai trazer justiça. A Justiça de Transição, que todos os países estão fazendo.
O capitão reformado da Aeronáutica Moacir Correa, de 90 anos, e o capitão do Exército José Araújo Nóbrega também prestaram depoimento.
FONTE:http://oglobo.globo.com/pais/ditadura-vitimou-27-militares-que-nao-aderiram-ao-golpe-de-64-12115227#ixzz2yJEdW1Ze

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